segunda-feira, 5 de maio de 2014

ENSINO COMPARTILHADO


Nos dias de hoje, o ensino compartilhado é uma bênção. A modernidade tecnológica é tudo de bom numa sala de aula onde se pode ter num mesmo ambiente e ao mesmo tempo alunos de várias classes e matérias diferentes recebendo orientação e exercendo a pesquisa e a experimentação, devidamente libertos daquela didática opressiva e desgastante, do passado. Hoje, retorna-se ao ensino construtivista compartilhado, só que com muito ludismo, sistemia e tecnologia. 
Recordo-me quando nos anos 50 eu estudei no Colégio Santo Antônio em Belém do Pará, e neste colégio havia muita disciplina postural, a imposição das regras sociais dos deveres e dos medos da época. As classes eram só femininas e havia o classismo do 1ºano, do 2ºano... e assim por diante. Nesta época também, éramos "as meninas" educadas mais para exercermos no futuro, a vocação juramentada de "senhoras donas de casa". Mas o ensino neste colégio sempre foi muito bom. Lembro-me com carinho da Madre Cordeiro nos sistematizando com consciência crítica comportamental quando dizia: boca calada e urubu camarada, espantam raposas no meio da boiada!
Depois fui estudar na escola do SNAPP, Serviços de Navegação da Amazônia, Portos do Pará.  Ali, na Escola das Professoras Ida e Abigail Oliveira, que haviam sido professoras da minha mãe, conheci  as diversas modalidades de dores causadas pelas réguas, palmatórias simples e furadas, além da maldita caixa de milho onde nos mandavam ajoelhar quando errávamos o "canto da tabuada".  Por isso e por muitos outros acontecimentos do passado é que eu costumo chamar o século XX de  o século da ignorância. Imagine que se formos retrocedendo nos séculos a respeito do ensino, podemos dizer que a especialização do conhecimento amplo, do conhecimento de si mesmo, do respeito pelo outro assim como da maneira de estar na vida e do conhecimento produtivo, se deu a duras penas até chegarmos ao desenvolvimento atual.
Bem, mas na escola do SNAPP, as classes eram mistas e compartilhadas. Uma professora ministrava a 1ª, 2ª e 3ª séries na mesma sala e outra professora ministrava a 4ª e a 5ª séries noutra sala. A estrutura da escola era boa para a época mas precária se comparada aos dias de hoje. Entretanto, as matérias eram bem ministradas e havia uma coisa boa no que se refere ao compartilhamento: as professoras escolhiam os alunos mais capacitados para ensinar e ajudar aos mais atrasados e os alunos que se destacavam eram premiados com medalhas e recebiam certificados de honra. O raciocínio lógico era exigido como compreensão não só da leitura mas também dos fatos da vida no dia a dia. O civismo era incentivado e todas as 2ªs feiras hasteávamos a bandeira e cantávamos o hino nacional. Havia também muitas festas nas datas festivas com a participação das famílias.
Esta experiência de compartilhamento é comum nas escolas de pau a pique que existem na selva  amazônica. Só que com muito amor. Ali as professoras  se acostumaram com a realidade da boa inteligência e discernimento das crianças daquela região e se especializaram em criar métodos de trabalho compartilhado de acordo com a realidade das comunidades. São crianças que vivem uma liberdade natural mas que  pelas dificuldades e pelos perigos naturais da selva aprendem desde cedo a exercer a criatividade, o pensamento rápido, o cuidado ambiental, a autodefesa e uma  tranquilidade que é adquirida através da segurança que lhes passam os mais velhos, com muito ludismo e sistemia. E o resultado tem sido muito bom, tanto que da selva tem saído profissionais muito bons e cuja humanização natural pode ajudar ao mundo, no que diz respeito a educação dos jovens nas grandes cidades.
Existe uma grande diferença entre estudar para não sofrer e estudar por prazer. Os bons resultados não são dados pela sofisticação das instalações de uma escola. É claro que de acordo com a região se torna necessário que hajam condições humanas de acessibilidade e permanência física dos alunos, professores e demais profissionais. Os bons resultados entretanto, são realmente obtidos por uma boa didática com método abrangente e ao mesmo tempo diferenciado. Por professores que exerçam com amor e respeito ao próximo. Tecnologia hoje é muito importante mas, ainda se pode dizer que o mais importante é a condição moral da família e da escola. Ainda volto a dizer que algumas famílias podem partilhar com a escola mas, a escola precisa ajudar a estruturar e reeducar outras determinadas famílias para que o educando possa encontrar cm casa, pelo menos um ambiente de respeito às suas atividades de crescimento. E para que estas famílias também adquiram respeito pelos professores e assim a escola se torne moralmente mais forte. 
Claro, é preciso que haja primeiro a educação disseminada e instituída, para que os jovens  possam chegar a uma formação responsável.

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